domingo, 3 de junho de 2007

As paisagens urbanas de Pedro MC

Pedro MC, diretor do vídeo Paisagem Urbana, visitou a sala de imprensa do FAM 2007. O cineasta conversou com Marco Martins e Loli Menezes sobre o documentário que foi realizado através do Prêmio Armando Carreirão, do Funcine, e é o destaque da Mostra de Vídeos Mercosul na tarde desse domigo.


Paisagem Urbana, Florianópolis sob o olhar de MC

MARCO: Pedro, algumas palavras sobre o “Paisagem Urbana”…

PEDRO: O “Paisagem Urbana” é um documentário sobre Florianópolis. A pergunta que me fazem é porque filmei somente no centro da cidade. Isto remete a história de minha própria família. O pressuposto básico do documentário é: quero saber quem eu sou? Por que eu nasci em Florianópolis? Por que eu tenho esse sentimento com relação à cidade? Daí vou descobrir: meus antepassados são portugueses, alemães, italianos, judeus e negros. Ou seja, eu sou uma mistura de quase todas as etnias que vieram para Santa Catarina. Minha família vem toda daquela região que dava para o mar, na rua Tiradentes. Eu fiz um retalho audiovisual. Eu caminhei pela cidade buscando as imagens, que são as mesmas imagens que meu avô e meu bisavô viram. Existe uma remanescência aqui na cidade de coisas antigas. O projeto tinha uma estrutura narrativa toda pautada, toda a sequência tinha um título, tipo vestígios, tinha toda uma estruturação. Eu fiz o projeto pra ganhar. Um dia eu estava filmando, no dia do meu aniversário, e de repente senti uma vertigem. Quando eu percebi tinha um monte de gente à minha volta, perguntando: “O que estais fazendo?”, e eu disse: “Gravando. Está vendo ali aquela fachada, aquela casa?”, e eles: “Que casa, cara? Tais gravando o quê?” As pessoas não enxergam que as fachadas das casas antigas são o grande patrimônio que a gente têm na cidade. Não são as praias. É a nossa arquitetura. E eu não sou saudosista.


O papo entre os três realizadores na madrugada do FAM


LOLI: Não me diz que tu não é saudosista. Se tu não fosse tu não teria feito esse filme.

PEDRO: Ao contrário. Eu me baseio muito no Mishima, o poeta japonês. Ele é do clã de samurais. Ele não é saudosista do passado. Ele pensava no Japão no futuro. A tradição não é o fim do crescimento, do progresso. Uma coisa não anula a outra. Não é um saudosismo piegas.

MARCO: Um saudosismo melancólico… que está presente no filme.

PEDRO: A melancolia aparece porque é um sentimento que eu tenho por ter nascido na ilha. Eu sempre olho para o mar e é uma coisa que o Fernando Pessoa escreveu: é a maior tristeza. É um sentimento existencial. É um sentimento que eu quis passar neste filme. Nesse dia do meu aniversário eu estava na frente da casa onde nasceu a minha mãe. Daí eu pensei: “Eu não vou fazer um documentário seqüenciado, bonitinho, com narração em of falando com os especialistas. Que se f… todo mundo! Eu vou fazer o que eu quero fazer!” E a partir dali mudou completamente o documentário. Eu estava na metade da produção e eu fui para outro caminho. Foi completamente experimental. Eu quis trabalhar com o ruído. Eu não fiz nenhum travelling, eu quis trabalhar com a câmera solta. O “Paisagem Urbana” é um recorte do meu olhar sobre a ilha de Santa Catarina. Dentro da minha pesquisa eu mergulhei na obra do Ítalo Calvino, o livro “Cidades Invisíveis”é maravilhoso. E a cidade é um tema que eu vou perseguir na minha obra.



Árvore Solitária, o filme convidado da Mostra de Vídeos

Letícia Friedrich falou sobre seu curta 16 mm, outra atração da tarde desse domigo no FAM:

Árvore Solitária é meu trabalho de conclusão do Curso de Cinema e Vídeo da Unisul. Foi a minha primeira experiência como diretora e roteirista Pensei nele como um desafio, se é hora pra errar é agora. Aproveitando o apoio dos professores e colegas, eu quis aprender com esse desafio e fiz o trabalho em película, porque achei que isso ia contribuir pra estética e pra linguagem do filme. Resolvi também trazer um ator conhecido, de fora da região sul, que é o Chico Diaz. Um ator em que eu sempre tinha pensado pro papel e numa brincadeira com o produtor do filme, citamos o nome dele, o procuramos e ele acabou topando. Aprendi muito com ele, porque ele veio muito a fim de trabalhar, e isso me surpreendeu bastante, porque jamais imaginei que um ator com a experiência dele resolvesse vir pra Florianópolis fazer um filme de conclusão de curso e contribuir tanto pra história. O roteiro é inspirado em Leon Tolstoi. Conta três histórias que se entrelaçam: a de um homem, uma criança doente e uma árvore solitária. Me inspirei no cinema de Tarkovski, especialmente O Sacrifício, e também nos filme de Abbas Kiarostami. É um filme sem diálogos, com um profundo caráter simbólico.

Mostra de Vídeos do Mercosul
Teatro Ademir Rosa, o CIC

16h:30min

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