sábado, 2 de junho de 2007

Por uma TV para todos

Augusto Gongora, da TV nacional do Chile, Paulo Markun, presidente da TV Cultura de São Paulo e Gabriel Priolli, da Televisão América Latina, reuniram-se para discutir a realidade e as perspectivas das TVs Públicas no Mercosul. Com experiências diferentes, eles relataram suas idéias sobre o tema no Fórum de sábado, 2 de junho, com transmissão simultânea via internet.

Augusto Gongora: Hay que ser sencillo.

Com a democratização nos anos 90, o estado chileno criou novas leis que regem a televisão estatal do país. O resultado do acerto entre diversas forças políticas produziu uma organização auto-sustentável, que por lei não pode receber dinheiro do governo. A TV Nacional do Chile desenvolveu então competência na gestão e alta competitividade no mercado. É a emissora líder em seu país, tanto em audiência, quanto em arrecadação publicitária.

A aliança com os produtores independentes é o forte da programação, ocupando 60% da grade. Jovens criadores apresentam uma diversidade de discursos estéticos, o que dá amplitude de linguagens, chave para o primeiro lugar na audiência. No Chile, a lei exige que 45% da programação seja nacional, mas na TV Nacional do Chile, 81% dos programas são produções chilenas.

A reformulação da TV Nacional chilena exigiu uma mudança de perspectiva em relação ao público. Dogmas e conceitos pré-definidos sobre que tipo de programação deve ser exibido em uma emissora pública tiveram que ser repensados. Para Gongora, não existe um público ideal e as estatísticas são frias e falam do passado. Para ele, a TV deve aproximar-se do espectador real, estabelecer uma relação afetiva com ele e planejar o futuro dessa relação.

O pior para uma TV é quando o espectador se sente estúpido. É preciso abandonar o medo de ser popular, é preciso determinar os conteúdos através de múltiplos formatos, como os programas de entretenimento. “Hay que ser sencillo”, temos que ser simples. Não é o gênero que determina os valores da obra, mas a linha editorial e o conceito que move o programa.
Gongora está atento para as mudanças que a tecnologia proporciona e afirma que a TV chilena prepara-se para investir em formatos multimídia e assim aproximar-se da geração dos blogs e Youtube, que buscam conteúdo independente e desconfiam dos meios de comunicação tradicionais.

Para ele, o público não deve ser tratado como objeto, mas em pé de igualdade, como um aliado estratégico.

Paulo Markun: A TV pública brasileira perdeu o bonde

Para Paulo Markun, no Brasil, a TV pública perdeu o bonde da história. È uma estrutura pouco relevante em termos de recursos, equipamentos e imaginário popular. Uma exceção honrosa é a TV Cultura de São Paulo, mantida pela Fundação Padre Anchieta, com cerca de 2 mil funcionários, que mantém uma imagem positiva, fruto de recursos oficiais, parcerias e publicidade. Reconhecida pela qualidade de sua programação infantil, praticamente não há espaço para a produção independente. Para Markun, a complicada realidade econômica das TVs públicas leva a investir em produções internas e baratas. E por parte dos produtores, ainda há uma incompreensão das regras do jogo quando o formato é televisão.

Gabriel Priolli: Uma nova TV pública

A TV brasileira é verticalizada. Existe uma cultura da auto-suficiência que remete ao início da televisão no Brasil, com a TV Tupi. Uma estrutura que produz tudo internamente, cujo maior símbolo é gigantesco estúdio do Projac, da Rede Globo. Isto leva à baixa diversidade e baixa democracia audiovisual. Para Priolli, as relações com o cinema ainda são superficiais e existe uma certa desconfiança dos executivos em relação aos produtores independentes.

Desconfiança não de toda improcedente, uma vez que muitos produtores não estão atentos aos prazos, orçamentos e à adequação de seu produto ao perfil da emissora. Os independentes geralmente vêem a TV como janela para a exibição de seu filme e não como uma mídia específica.Para Priolli, ainda existem poucas parcerias com os independentes e pouca interação com os novos modelos de comunicação no quais os limites entre produtor e receptor se diluem. Ele acredita que a TV pública deve quebrar o modelo tradicional, centralizado e vertical, e pensar perspectivas de cooperação entre países do Mercosul. E apontou para a efetivação da Rede Pública de Televisão, o projeto de TV federal em constituição que promete reconfigurar o setor público de TV no Brasil.

Personagens reais habitam Luz de Invierno

LUZ DE INVIERNO, atração das 21:00h, destaca os valores da identidade na Mostra de longas-metragens do 11° FAM



Luz de Invierno, baseado nos contos de Carlos Hugo Aparício, é composto por três histórias independentes, porém interligadas. As personagens contam com situação social similar, cujos cenários são os assentamentos periféricos da cidade de Salta, a 1.700 quilômetros de Buenos Aires, ao Norte da Argentina, com a mesma visão diante da vida e o valor do êxito na sociedade latino-americana.

Na primeira história, El Ultimo Modelo, uma humilde família de jornaleiros, composta pelo pai, a mãe e os três filhos, ganham um carro O km em uma rifa. O veículo quebra a monotonia de seus dias. Porém a alegria dura pouco, pois a falta de dinheiro para o combustível impede a família de usá-lo.

Na história seguinte, La Pila de Ladrillos, um casal sem filhos habita uma casa pré-fabricada, num bairro humilde, e leva a vida como pode. Ele é um funcionário público de caráter duvidoso e ela uma dona de casa que quer progredir e melhorar sua modesta forma de vida. O casal compra tijolos para a construção da casa. No dia após a compra, eles percebem que alguns foram roubados. Os roubos seguem acontecendo, dia após dia. Todo o bairro se converte em suspeita.

Na última história, La Búsqueda, o empregado de uma relojoaria vive sozinho em uma pensão barata e divide seus dias entre o bilhar e o trabalho cada vez mais escasso. Certo dia, um velho mendigo chega na relojoaria e trava uma estranha relação com o empregado, que não consegue negar-lhe algumas moedas. O velho mendigo desaparece e aqui o empregado começa sua estranha busca.

As três estórias destacam a mesma problemática: a necessidade de viver de acordo com os valores da própria identidade, frente a um mundo cada vez mais individualista.



LUZ DE INVIERNO, longa-metragem de Alejandro Arroz.

Mostra de Longas do Mercosul

Teatro Ademir Rosa, no CIC

21:00h

Memória e identidade

Carlos Brandão, presidente do Centro de Pesquisadores do Cinema Brasileiro, está no FAM 2007 e conversou com o cineasta Marco Martins


Na entrevista, Brandão falou sobre o trabalho de restauração de obras fundamentais do cinema brasileiro como Aviso aos Navegantes e O Homem que Virou Suco, e sobre o conceito do projeto do CPCB: A idéia de restaurar um filme não é só restaurar e botar na lata de volta. Senão vira lata. O filme só existe quando é visto. Então a idéia é fazer a restauração e exibir, para que o povo tenha idéia de como era nosso cinema. Para fazer a escolha de qual filme restaurar, temos diversos critérios: a importância do filme em si; o filme de um diretor cuja importância deve ser preservada; algum filme que historicamente tenha algum significado especial; e ainda que tenha sido significativo para uma determinada escola ou movimento.

Brandão falou também sobre o livro Memória da Memória, que foi lançado nesta tarde no FAM: Esse livro surgiu porque a gente trata tanto da memória do cinema brasileiro, procurando fazer as restaurações dos filmes, incentivando as pesquisas, que num determinado momento a gente percebeu que não tinha memória de nós mesmos.

E enfatizou a questão da importância da memória do cinema brasileiro: A importância da memória é politicamente estratégica, é uma questão de soberania. A pior colonização é a cultural, esta você não se livra, vai para a alma, vai para o coração.

Agora: Assista on-line os debates do Fórum

A partir da 15h, você poderá assistir no seu computador, via internet, em transmissão simultânea, o primeiro painel do Fórum Audiovisual do Mercosul. Basta clicar:


Beto Brant solta o verbo depois da sessão de Cão Sem Dono

Na noite de ontem, após a sessão de abertura da Mostra de Longas do Mercosul, Beto Brant concedeu uma entrevista para o cineasta Marco Martins, da equipe de imprensa do FAM 2007, e para o jornalista Fábio Bianchini, do Diário Catarinense.


Brant falou sobre a distribuição e exibição de filmes brasileiros, sufocados pelo domínio do mercado comercial, e sobre as possibilidades que propostas alternativas e eventos como o FAM proporcionam: A gente se dispõe em ir buscar o público. É um público alternativo, não o público de Shopping Center. Agora mesmo eu tava no Rio e um cara chegou na minha e falou: Pô, Beto! Eu te conheci há 10 anos, no debate do “Os Matadores” lá na universidade. Então é o seguinte: a gente sabe que o que acontece com os nossos filmes, mesmo com pouca bilheteria, é que eles são filmes longevos.

O ofício do cineasta também foi tema da conversa: O cineasta tem que ter postura, caráter e motivação. Têm gente que encara o cinema como negócio, que pega um subproduto da televisão, transforma num produto o mais charmoso possível e vai atrás do dinheiro. Tem outros que correm atrás de um resultado artístico, de uma individualidade, de diversidade. É preciso individualizar nossos atos, buscar uma concepção independente da vida, nas questões sociais, políticas, de fórum íntimo.

Brant falou ainda sobre o processo criativo de Cão Sem Dono, o filme que lotou o Teatro Ademir Rosa na noite de abertura do FAM 2007: O filme é uma história de amor, história de um moleque que sai da faculdade, que estudou letras e que não sabe como buscar o lugar dele. Não tem Porto Alegre em cartão-postal, mas tem o universo das pessoas de lá.

A entrevista completa você poderá conferir em breve nas próximas edições do Diário Catarinense e aqui no blog do FAM 2007.

Memória do cinema e TV educativa no primeiro dia de debates

O Fórum Audiovisual do Mercosul começa hoje

A Preservação da Memória do Cinema Brasileiro é o evento extra que marca a abertura do Fórum Audiovisual Mercosul, o braço do 11º Florianópolis Audiovisual Mercosul dedicado à discussão de políticas de aproximação e do pensar audiovisual e cinematográfico. A condução do debate está a cargo dos fundadores do Centro de Pesquisadores do Cinema Brasileiro, Myrna e Carlos Brandão, e das pesquisadoras cinematográficas Marília Franco e Solange Stecz.


Myrna e Carlos aproveitam a passagem pelo FAM para lançar o livro Memória da Memória – Uma História do Centro de Pesquisadores do Cinema Brasileiro, também no sábado, às 17:30h, no espaço Lindolf Bell do CIC.

O segundo painel do Fórum, Produção de Conteúdo para TVs Públicas e Culturais, discute a abertura de mais espaços para a produção independente na televisão brasileira e a ampliação dos limites de conteúdo das TVs educativas. Compõe a mesa o jornalista Paulo Markun, presidente da TV Cultura, apresentador do programa Roda Viva, editor do Jornal de Debates e presidente do Sindicato da Indústria Audiovisual do Estado de Santa Catarina. Representando a TV Nacional do Chile, o jornalista Augusto Gongora fala a partir de sua experiência como criador de diversos programas culturais e produtor de documentários independentes. Já o professor e jornalista Gabriel Priolli responde pela Televisão América Latina (TAL). Também é presidente da Associação Brasileira de Televisões Universitárias (ABTU), além de apresentador e diretor da TV PUC/SP. Escreve colunas para a Revista Época e para o site Observatório da Imprensa.

Fórum Audiovisual do Mercosul
Local: Cineclube Nossa Senhora do Desterro, no CIC

14:00h - Painel Extra-Fórum: Preservação da Memória do Cinema Brasileiro

15:00h - Painel: Produção de Conteúdo para TVs Educativas e Culturais

17:30h - Lançamento do Livro Memória da Memória, com Carlos e Myrna Brandão, no Espaço Lindolf Bell

sexta-feira, 1 de junho de 2007

Um sábado de cinema

Hoje o Centro Integrado de Cultura respira audiovisual

Foi empolgante a abertura do FAM 2007. E nesse sábado, a programação do Florianópolis Audiovisual Mercosul já está a mil. Filmes e discussões por toda parte esquentam um dia cheio de imagens, sons e pensamento.


Rodolfo Cejas está em Luz de Invierno, filme argentino de Alejandro Arroz, destaque de hoje da Mostra de Longas do Mercosul



A manhã é das crianças no FAM. O sábado começa com a primeira sessão da Mostra Competitiva Infanto-Juvenil, às 10:00h.
Às 14:00, o primeiro painel do Fórum Audiovisual do Mercosul abre a discussão que carateriza o FAM. Pesquisadores estarão pensando a Preservação da Memória do Cinema Brasileiro, no Cineclube Nossa Senhor do Desterro.
Na mesma hora, no Teatro Ademir Rosa, Sílvio Da-Rin mostrará o documentário Hércules 56. Às 15:00h, nova mesa de discussão em outro painel do Fórum: Produção de Conteúdo para TVs Públicas e Culturais.
Às 16:30 vai começar a primeira sessão da Mostra Competitiva de Vídeos, no Teatro.
Às 18:00h Carlos e Myrna Brandão lançam o livro Memória da Memória - Os 30 anos do Centro de Pesquisadores do Cinema Brasileiro, no Espaço Lindolf Bell.
A noite começa com a Mostra Competitiva de Curtas 35 mm do Mercosul, às 19:30. E às 21:00h, Luz de Invierno, longa argentino de Alejandro Arroz, na Mostra de Longas do Mercosul.

Baixe a programação completa do FAM 2007, através do badongo.com, escolhendo o arquivo na barra lateral do blog, acompanhe nossas postagens durante o dia e curta cinema no FAM.

Reflexão e emoção por todos os lados.

O público lotou o Teatro Ademir Rosa na cerimônia de abertura do FAM 2007.

Nós queremos nos ver na tela. O FAM coloca a possibilidade de nos reconhecermos. Não podemos imaginar uma história de amor aos moldes do cinema norte-americano. Nós temos nossa história, nossa estética. Antônio Celso dos Santos

O coordenador geral do FAM, Antonio Celso dos Santos, destacou a importância política do FAM como centro de discussão e planejamento de ações para o fortalecimento do audiovisual nos países do Mercosul. E lembrou da inovação que será a transmissão simultânea, via Internet, dos painéis do Fórum Audiovisual Mercosul: Finalmente estamos no cenário mundial. Nesta edição, ao clicar um botão, em qualquer lugar do mundo, através da Internet, será possível acompanhar a parte política do FAM.

A presidente da Cinemateca Catarinense, Luiza Lins, aprovou a aproximação entre a entidade que dirige e o FAM. Segundo ela, essa união faz a força que impulsionará o cinema catarinense. A mesa se completou com a presença do vice-presidente do Santacine João Roni, do vereador Márcio de Souza e de Elisabete Anderle, diretora geral da Fundação Catarinense de Cultura.





A fala do Secretário de Turismo, Esporte e Cultura, Gilmar Knaesel trouxe boas notícias para o cinema catarinense: o governo do Estado vai apoiar o Florianópolis Audiovisual Mercosul através de recursos do FUNCULTURAL.


Ao agradecer a homenagem recebida com o Prêmio Destaque 2007, Beto Brant fortaleceu seu desejo de exibir filmes fora do circuito hegemônico de distribuição.




E o ator Julio Andrade preparou a platéia para viver as emoções que viriam a seguir com Cão Sem Dono, filme que protagoniza.

A noite tão aguardada chegou

18:30h. Começa o Florianópolis Audiovisual Mercosul. E começa também nosso diário de bordo.

O público vem chegando para a abertura do FAM 2007 e encontra os artistas do Circo Bessudo em performances hilárias no hall de entrada do Centro Integrado de Cultura.


Daqui a pouco começa a abertura oficial, no Teatro Ademir Rosa. Em seguida a homenagem a Beto Brant, o convidado especial do FAM 2007. E depois, às 21:00 h, a tela vai se encher de Cão Sem Dono, o filme de Brant e Renato Ciasca.


As belas da secretaria do FAM 2007 já estão atendendo convidados e público no QG instalado no Espaço Lindolf Bell.

Mostra de Longas do Mercosul começa hoje com Cão Sem Dono

Filme de Beto Brant e Renato Ciasca é a grande atração da primeira noite do FAM 2007

Julio Andrade, Tainá Müller e o cachorro Churras estão em Cão Sem Dono

A primeira sessão da Mostra de Longas do 11º FAM - Florianópolis Audiovisual Mercosul apresenta o filme “Cão Sem Dono”, de Beto Brant e Renato Ciasca, às 21h, no Teatro Ademir Rosa, no Centro Integrado de Cultura (CIC). Brant, bem-sucedido curta-metragista e autor de cinco longas, entre eles o elogiado “O Invasor”, é o homenageado da cerimônia de abertura do FAM 2007, marcada para às 20h30min.

O filme encarregado de abrir a agenda do FAM vem envolvido num clima “naturalista”, que dá tempo às situações em planos fixos e seqüências maiores em contraponto à narrativa ágil e de impacto que caracterizam os primeiros trabalhos do diretor. Bem recebidos por público e crítica, os novos caminhos traçados pelo cineasta levaram ao Troféu Calunga de melhor longa-metragem do Cine Pernambuco, e os prêmios de crítica e de melhor atriz, concedido a Tainá Muller.

Baseado no livro “Até o Dia que o Cão Morreu”, de Daniel Galera, “Cão Sem Dono” é a observação de um relacionamento amoroso, protagonizado por Ciro (Júlio Andrade) e Marcela (Tainá Muller), ambientado em Porto Alegre. Recém formado em literatura, sobrevivendo de bicos como tradutor e contando com ajuda financeira - e emocional - da família, o personagem vive uma crise existencial marcada pelo ceticismo, a falta de planos e a companhia de um cachorro. Marcela, uma ambiciosa modelo em início de carreira, se entrega de forma obsessiva ao trabalho, adiando para mais tarde a realização de qualquer sonho.

Beto Brant é o homenageado no primeiro dia do FAM 2007

Mostra de Longas do Mercosul
Teatro Ademir Rosa, no CIC
21:00h
Entrada Franca


Cão Sem Dono de Beto Brant e Renato Ciasca (82min, ficção, Brasil)

É hoje!

O Teatro Ademir Rosa, no CIC, se transforma no maior cinema da cidade a partir da noite de hoje



No proscênio do palco gigante do teatro, sobre o telão de doze metros de comprimento por sete de altura, as imagens de Cão Sem Dono, de Beto Brant e Renato Ciasca vão abrir a Mostra de Longas do Mercosul.

Durante os 08 dias de FAM vão passar por esta tela milhares de personagens em centenas de histórias numa teia que costura o presente da produção audiovisual e cinematográfica brasileira e latino-americana.

No Festival Audiovisual Mercosul, a porta da frente está aberta. Não há catraca nem ingresso a pagar. A moeda do FAM é a cabeça aberta para entrar num mundo de sons e imagens nem sempre concebidos para a pronta digestão, mas sempre apto a provocar uma experiência diferente. Enquanto a sala mais imponente do CIC opera dia e noite para dar conta das mostras de longas, curtas e vídeos do Mercosul, espaços paralelos do complexo acolhem outras ficções e documentários convidados da Mostra Extra-FAM, compondo um total de 121 títulos nesta 11ª edição do Florianópolis Audiovisual Mercosul. E ainda os painéis do Fórum Audiovisual Mercosul esquentam a discussão e promovem estratégias para o desenvolvimento da produção audiovisual dos países do Mercosul.

BEM-VINDOS AO FAM DE TODOS

18h: Espetáculo Circo Bessudo (vão térreo da rampa do Teatro Ademir Rosa, no CIC)

19h30min: Abertura do 11º FAM

Local: Teatro Ademir Rosa, no CIC

20h30min: Homenagem ao cineasta Beto Brant

21h: Abertura da Mostra de Longas do Mercosul

Cão Sem Dono (82min, ficção, Brasil), direção de Beto Brant e Renato Ciasca

Antônio Celso dos Santos

O Coordenador Geral fala da trajetória e dos novos desafios do FAM

Celso. Há 11 anos o homem à frente do Florianópolis Audiovisual Mercosul

Como surgiu o FAM? Quais as conquistas nestes onze anos?
Antonio Celso dos Santos: O FAM surge como um sonho, de uma possibilidade fantástica de unificação do Mercosul. Atualmente somos poucos dentro do Mercosul, a idéia de unificação, de conhecer culturas diferenciadas e suas singularidades foi o que nos moveu no início. O que estava na base, lá em 97, era trazer para SC uma visão estruturante para unificar as produtoras de comerciais, dar a essa produtoras uma perspectiva de sindicato que hoje se consolidou com o Santacine. Isto está lá no primeiro encontro. A idéia básica era: temos produtoras isoladas disputando umas com as outras visceralmente. Essas produtoras demandam vários profissionais. A nossa questão era fazer o sindicato.E o grande mote deste ano é que iniciamos uma década nova, dando oportunidade pra mais gente ver cinema e ao mesmo tempo entender os mecanismos pelos quais nós não vemos nós mesmos.

E qual a perspectiva para os próximos anos?
ACS: O FAM tem uma coisa muito bonita: ele tem esse lado político, que você vê a todo instante o crescimento do movimento em SC com o ingresso dos estudantes de cinema que vêm trabalhar no audiovisual e você tem esse crescimento não somente exponencial, mas em qualidade. O próprio governo federal admite que a partir de várias discussões acumuladas durante o FAM surgem alguns organismos multinacionais como a RECAM, a Reunião Especializada de de Autoridades Cinematográficas e Audiovisuais do Mercosul . A gente tem a virtude de estar na história no momento certo, necessário. O selo Mercosul está aí disponível. E coisas mais pueris, como no ano passado, um rapaz chegou, veio me cumprimentar, estava com a namorada, perguntei a idade dele, tinha 22 anos e veio me dizer que foi aqui no FAM que aprendeu a gostar de cinema. Então pra nós é um orgulho que exista a possibilidade de um cinema que não seja apenas o mesmo. Citando Gustavo Dahl que esteve aqui no FAM várias vezes: “Isto é o seqüestro do código narrativo. Querer mais do mesmo sempre.” Os filmes que são exibidos no FAM são diferentes, pretendem um outro olhar sobre a realidade, com outros ritmos e estéticas. E ao mesmo tempo, o FAM também é a estrutura da política , onde também se conversa em qual sala este filme vai ser exibido, quantas pessoas poderão ver este filme. Penso que para a cidade, o FAM representa um ganho fenomenal em 11 anos. Um espaço permanentemente , democrático, aberto e gratuito.

Este ano, o FAM abriga um encontro de cineclubistas. Qual a razão disto? Seria uma retomada do cineclubismo?
ACS: O FAM este ano, no aspecto político, de articulação, eu pensei na possibilidade de encontro de todos com todos. As agendas são abertas, quem tiver projeto põe o projeto, quem tiver qualidade , mostra qualidade. O movimento cineclubista é histórico no país, é uma grande estrutura onde quem não conseguia espaço dentro do circuito comercial, dispunha do circuito dos cineclubes. Você pensar que seu limite hoje está circunscrito a duas mil e tantas salas, 1500 estão ocupadas pelo Homem-Aranha 3 e Piratas do Caribe 3, na prática sobram 500 salas para todo o resto do mundo. Dentro disso, o cineclube é uma estrutura muito importante. E a reativação do cineclube hoje é porque ele está mais perto da comunidade, que escolhe sua programação. Dentro do FAM, discussões sobre o cineclubismo, a mostra Revelando Brasis, a participação da Programadora Brasil, isso tudo para dar acesso à visão da cultura de uma forma grandiosa. E o mais importante é que não seja chato, que seja agradável.


O empresariado e o Governo estão atentos ao FAM?
ACS: Há algo fantástico na trajetória do FAM. No décimo primeiro ano do FAM, ele foi incluido no programa de continuidade da Petrobrás. Isto é muito importante e para a área cultural catarinense, um fato que deveria ser motivo de orgulho. É o reconhecimento pela qualidade do que fazemos. O Governo Federal sempre nos apoiou. O Governo Estadual tem suas disputas internas que acabam inviabilizando determinados apoios em termos financeiros. Mas nós ocupamos as dependências do Governo Estadual, o CIC. Logo isto é uma forma de contribuição. Mas não é o que queremos totalmente. A relação pode ser melhor se os projetos forem aprovados com mais tempo, para que possamos trabalhar com mais mobilidade, possibilidades de acharmos parceiros. Mas a saia está justa. Eles precisam saber que o Mercado Audiovisual é estruturado. Hoje a felicidade que eu tenho, já há alguns anos, é ver que existe o Santacine, que existe uma filmcomission, que lá atrás já era pauta do FAM. O FAM sempre foi o espaço disponível para a articulação, o FAM conseguiu inserir nós catarinenses no mapa do cinema latino-americano.

Como o FAM se viabiliza? Quanto tempo é gasto para a formulação de cada edição?
ACS: O FAM nasce e se desenvolve como um projeto de amizade. Eu particularmente trabalho 14 meses em 12, e não ganho décimo quinto. É um trabalho extenuante, herculeo e tenho certeza que eu faço isso porque tenho horizonte. Morrer na praia não dá. É muito difícil você ter um diálogo que pudesse ser em tempo com aqueles que de fato decidem. Só tapinha nas costas não dá. É necessário ter um planejamento muito grande e eu trabalho nisso. Nós estamos agora na décima primeira edição. Eu já estou na décima segunda, planejando o 2008. Só gostaria que o Estado tivesse uma certa agilidade nos seus processos internos, dos quais eu desconheço, para que dentro do ICMS, fosse aprovado em tempo para que eu pudesse constituir os meus parceiros. E da parte do município, que a prefeitura pudesse reconhecer o Funcine como interlocutor para o FAM.

Cinema e Pipoca

A partir de sábado a gurizada se entrega à magia do cinema nas sessões da Mostra Infanto-Juvenil do Florianópolis Audiovisual Mercosul

Leonel Pé-de-Vento é uma animação gaúcha de Jair Giacomimi. http://www.leonelpedevento.com.br/

Dez produções de ficção e animação integram a Mostra Competitiva Infanto-Juvenil do FAM deste ano. Mantendo a tradição de programar sessões de cinema gratuitas específicas para o público infantil, o FAM reserva manhãs e tardes para a criançada se divertir e aprender a gostar de bom cinema.


Em Piruetas, de Haroldo Borges, o avô redescobre a infância quando leva seu neto ao circo.

Durante a semana - a agenda é voltada para 3.600 alunos da rede pública e particular da Grande Florianópolis, com idades entre 5 e 12 anos. São alunos de várias localidades da Grande Florianópolis que chegam em ônibus cedidos através de parcerias com as empresas de transporte e outras entidades. O FAM possibilita assim a oportunidade para crianças da comunidade que muitas vezes nunca foram ao cinema, e que através do festival podem vivenciar essa experiência inesquecível.

O feriado de quinta-feira (dia 7) encerra a programação infanto-juvenil com a animação Brichos, de Paulo Munhoz, aberto à toda comunidade.

Presença importante durante a mostra infanto-juvenil é a pipoqueiro Babalu, que há anos anima as crianças do FAM, distribuindo pipocas ao final das sessões!


Mostra infanto-juvenil do FAM 2007
Teatro Ademir Rosa - CIC
Sábado (dia02) e Domingo (dia 03): 10 h
Segunda(dia04): 9h e 14h
Terça(dia 05): 9h
Quarta (dia 06): 9h e 14h


Quinta (dia 07): o longa-metragem Brichos, de Paulo Munhoz - 10 h

quinta-feira, 31 de maio de 2007

O universo dos motoboys em Os 12 Trabalhos

Ricardo Elias revê o mito de Hércules sobre duas rodas

Héracles é o motoqueiro que precisa cumprir 12 tarefas em um dia para arranjar o emprego de motoboy

Para quem não vive em São Paulo é difícil imaginar que, na engrenagem da cidade, estejam centenas de milhares de motoboys. E, para quem mora na capital paulista, é praticamente inconcebível imaginar a entrega de documentos, correspondências e quaisquer materiais que não por motoqueiros.

São eles que percorrem a cidade de ponta a ponta, numa velocidade incomparavelmente maior que a atingida pelos carros, presos em enormes congestionamentos. Atravessar os 2,8 quilômetros da Avenida Paulista, por exemplo, em dia de tráfego intenso leva, em média, 8 minutos para quem estiver de moto; já um carro demora, em média, 30 minutos. O mesmo tempo gasto pelo percurso se feito a pé.

Nos últimos anos, houve uma verdadeira explosão desse mercado. Segundo depoimento do ex-Secretário de Transportes de São Paulo, Carlos Zaratini, apresentado no documentário Motoboys – Vida Loca, de Caíto Ortiz, “o motoboy é um aperfeiçoamento do boy”. Já para Roberto Scaringella, fundador e atual presidente da CET (Companhia de Engenharia e Tráfego), “o que está acontecendo é que nós estamos improvisando esse profissional de uma maneira precária”. E ele explica: uma pessoa sem emprego compra uma moto bem velha, tira a habilitação e, para ganhar mais, precisa percorrer em menos tempo a maior distância possível. Para isso, é preciso se arriscar quase que o tempo todo.

Atualmente, os números são alarmantes: morrem, em média, dois motociclistas, por dia. Os acidentes envolvendo exclusivamente essa população na cidade de São Paulo causam ao Estado mais de R$ 200 milhões de prejuízo por ano.




Ricardo Elias se inspira no mito grego de Hércules para falar da juventude brasileira no grandes centros urbanos.


Em Os 12 Trabalhos, Ricardo Elias conta a história de Héracles, um jovem negro da periferia que, para superar o passado que o desfavorece, terá de realizar 12 tarefas ao longo de um dia para conseguir um emprego como motoboy. Aparentemente frágil e dono de uma sensibilidade nem sempre compreendida por seus colegas, o rapaz irá se deparar com a intolerância, a injustiça, o desejo e a tentação em situações próprias de uma metrópole como São Paulo. Uma releitura contemporânea do mito de Hércules, que traça um panorama da vida nas grandes cidades e ressalta o esforço e a luta de uma juventude sem muitas perspectivas.

Os motoboys de São Paulo se organizam no Sindicato dos Trabalhadores Motociclistas da Cidade de São Paulo. Quer saber mais sobre a classe? http://www.motoboy.org.br/

Os 12 Trabalhos, de Ricardo Elias (Brasil, ficção, 90 ')
Mostra de Longas Mercosul
Teatro Ademir Rosa - CIC
Dia 08 de junho
19 h

A transformação através das letras

A Dios Momo, uma fábula sobre a educação, está na Mostra de Longas Mercosul no dia 05


Obdulio é um garoto que vende jornais nas ruas de Montevideo. A escola não é sua prioridade porque ele precisa sustentar a família. Obdulio não sabe ler. Mas nas noites mágicas de verão, o carnaval vai surpreendê-lo com seus personagens coloridos. Nestes encontros cheios de brincadeiras, música e jornais, Obdulio conhece um guia para novas aprendizagens. Um misterioso mentor que lhe abrirá a janela à educação, ensinando-o as letras dos blocos carnavalescos durante o reinado do Deus Momo.


Obdulio encontra a beleza das coisas através das palavras.

“Não queria dar ao filme um tratamento equivocado, oferecendo apenas um retrato duro e amargo sobre as condições em que vivem Obdulio e outras milhões de crianças do Terceiro Mundo. Muitos filmes latino-americanos já tocaram nesse tema de uma forma que eu jamais poderia superar. Não me interessava falar em A Dios Momo somente da dramática situação econômica e social que envolve Obdulio. Queria acrescentar à sua história um componente que, de alguma forma, pudesse ser interpretado como um sinal de esperança e otimismo. E a melhor forma que encontrei foi introduzindo os elementos mágicos e espirituais que acabam por afetar positivamente sua vida. Eu espero que as crianças que assistam A Dios Momo entendam que no mundo que nos foi reservado viver, além da violência e do crime, existe também o amor pelas palavras, os livros e o conhecimento.” O diretor Leonardo Ricardi em entrevista ao periódico mexicano La Opinión.



A Dios Momo, de Leonardo Ricagni (108 min, ficção, Uruguai)
Mostra de Longas Mercosul
Teatro Ademir Rosa - CIC
05 de junho
21:00 h

Cineclubismo em debate

O movimento cineclubista de Florianópolis reúne-se no FAM 2007

Já na segunda década do século passado, a insatisfação com os modelos rígidos estabelecidos pela indústria cinematográfica, a decepção com a submissão dos realizadores às regras dos estúdios, a revolta com a censura, e a preocupação com a afirmação de cinemas nacionais que retratassem outras culturas e modos de vida, levou muita gente, em todo o mundo, a procurar alternativas.

Os cineclubes surgem dessa inquietação, como um espaço livre, diverso e democrático em contraposição às exigências mercadológicas uniformizantes do cinema comercial.

Em 1928 surge o Chaplin Club. É o primeiro cineclube brasileiro, responsável pelas primeiras exibições no Brasil de clássicos como O Encouraçado Potemkin, de Eisenstein. Saiba mais sobre a história do cineclubismo no país em http://cineclube.utopia.com.br/cronologia/crono_movimento.html


Nessa perspectiva, os cineclubes brasileiros sempre tiveram importância decisiva na afirmação de uma cinematografia brasileira autônoma e na difusão de olhares múltiplos. Sobrevivendo às crises, à ditadura e ao sufocamento causado pelos mercados hegemônicos, a história do cineclubismo brasileiro é uma história de resistência.

Desde a década de 50 do século passado, existem registros da atividade cineclubista em Santa Catarina. Hoje, em Florianópolis, os diversos cineclubes atuantes vivem um momento de organização que acompanha a crescente revitalização do movimento cineclubista. Seus representantes se reúnem durante o FAM 2007 em dois encontros que visam o planejamento de ações conjuntas para o fortalecimento do movimento.

Nos anos 80, O Homem que Virou Suco, de João Batista de Andrade, é lançado simultaneamente no circuito comercial pela Embrafilme e nos cineclubes de bairro pela Dinafilme, histórica distribuidora ligada ao cineclubismo.

Os cineclubes de Florianópolis têm características que marcam a diversidade de suas propostas:

O Cineclube Rogério Sganzerla, vinculado ao recém criado Curso de Cinema da UFSC, concentra-se em exibir clássicos do cinema mundial e brasileiro, discutí-los e produzir análises disponíveis no http://www.cineclube.ufsc.br/ .
O Sopão de Filmes exibe curtas de produção alternativa regados à sopa e alegria no ambiente descontraído do Pomar das Artes, na Agronômica.
O Cineclube Plasticine produz regularmente sessões temáticas na FAED, UDESC ou UFSC e divulga sua programação diversificada no http://plasticineclube.blogspot.com/ .
O Cineclube Sol Da Terra promove mostras e ciclos na sala de cinema do Espaço Sol da Terra, na Lagoa da Conceição.

Além destes outros cineclubes de Florianópolis participam dos

Encontros de Cineclubistas de Florianópolis no FAM 2007
Dia 05 de junho às 14 h
Sala Multimídia do MIS, no CIC
Exibição do filme Conceição - Autor Bom é Autor Morto, de Daniel Caetano, com a presença do diretor, e debate sobre cineclubismo com Caio Cesaro, da Programadora Brasil.

Dia 08 de junho às 09 h
Cinema Nossa Senhora do Desterro, no CIC

Santiago: Reflexões sobre o material bruto

A Cinemateca Catarinense/ABD-SC promove exibição do documentário de João Moreira Salles como aquecimento para o FAM 2007

O mordomo Santiago sob o rigor da filmagem de Moreira Salles

Em 1993, João Moreira Salles teve a idéia de filmar o mordomo que trabalhou na casa de sua família durante 30 anos. O diretor, que ainda não era um dos mais conhecidos documentaristas nacionais, chamou uma amiga para ajudá-lo nas entrevistas, o fotógrafo Walter Carvalho e foram todos ao apartamento de Santiago, que já não trabalhava mais na mansão da família na Gávea, hoje Instituto Moreira Salles.
Em cinco dias de filmagem, Moreira Salles captou mais de 9 horas de material. O argentino Santiago é um personagem e tanto, um homem culto e sensível que dedicou a maior parte da sua vida a cuidar com afinco da família Moreira Salles e ao trabalho incansável de transcrever documentos da aristocracia brasileira. Na época com quase 80 anos submeteu-se inteiramente ao domínio da direção. Durante os encontros Moreira Salles filmou do jeito que quis, construindo marcações precisas com seu personagem e tentando obter as respostas que esperava. Os enquadramentos de Walter Carvalho remetiam a Yasujiro Ozu e o Preto & Branco da fotografia dava um tom denso às narrativas de Santiago.

No entanto, mesmo filmado com tal preciosismo, algo saiu errado e o material bruto de Santiago permaneceu intocado por 13 anos.Em 2005, Moreira Salles debruçou-se sobre este material ao lado dos editores Eduardo Escorel e Lívia Serpa. O resultado é um olhar novo e implacável sobre o ofício de documentarista.

Sincero, Salles evidencia a distância que manteve do personagem durante os dias de filmagem, a imposição de suas idéias estéticas, aquilo que não entendeu, o que lhe escapou no momento do encontro. Ao voltar ao material bruto, o que veio à tona depois de tantos anos foi o que realmente importava. De certa forma tarde demais, pois Santiago morreu logo após as filmagens e aquelas imagens não podem ser mudadas. Mas dessa sensação inevitável surge o que Santiago - Reflexão Sobre o Material Bruto tem de novo: uma reflexão sobre o tempo, que segundo o próprio mordomo Santiago "não tem consideração".











O material bruto revelou sua força 13 anos depois das filmagens.



A Associação Cultural Cinemateca Catarinense - ABD/SC lançará em Santa Catarina no dia 30 de maio o último documentário de João Moreira Salles.
A exibição acontecerá no cinema do CIC, às 19 hs. Antes da exibição haverá um bate- papo com o cineasta. Salles aproveitará a vinda para a cidade para promover também a Revista Piauí, na qual é editor.

Santiago – Reflexões Sobre o Material Bruto

Documentário de João Moreira Salles

30 de maio – 19 h. Cinema do CIC



Antes, às 15:30
Palestra de João Moreira Salles sobre o projeto editorial da revista Piauí
Auditório do Centro de Comunicação e Expressão - CCE (UFSC)

Hércules 56

Documentário de Sílvio Da-Rin revisita a mais radical ação da luta armada contra a ditadura militar.

Grupos revolucionários detiveram hoje o Sr. Charles Burke Elbrick, embaixador dos Estados Unidos, levando-o para algum lugar do país, onde o mantêm preso. Este ato não é um episódio isolado.

Em setembro de 1969 a Ação Libertadora Nacional e o MR-8, grupos de esquerda que militavam na luta armada contra o regime ditatorial que governava o Brasil, divulgaram um manifesto que começava com esta revelação. Assim começa também o áudio de Hércules 56, documentário de Sílvio Da-Rin que é destaque na Mostra Extra-FAM.

Da-Rin reavalia as motivações dos mentores da ação e revela as lembranças dos libertados através de dois eixos narrativos: uma conversa entre cinco organizadores do seqüestro de Elbrick e os depoimentos individuais de 9 remanescentes dos 15 presos que embarcaram para o México.


Os revolucionários exigiram a libertação de 15 prisioneiros políticos em troca da vida da autoridade americana. Quer saber mais sobre sobre os envolvidos no seqüestro do embaixador ? http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=909


O medo, a sensação de liberdade na chegada ao México, a recepção como heróis em Cuba e a volta à clandestinidade são lembranças dos ex-militantes, dentre eles o ex-ministro José Dirceu. Da parte dos organizadores do rapto de Elbrick, entre eles o jornalista Franklin Martins, ministro da Comunicação Social do governo Lula, e o historiador Daniel Aarão Reis, vêm memórias igualmente reveladoras dos impasses e das emoções contraditórias que eles experimentaram durante a ação.


Hércules 56 era o prefixo da aeronave da FAB que levou ao exílio os presos libertados em troca do embaixador.


No dia 02 de junho, a Mostra Extra-FAM exibe Hércules 56. Após a sessão o diretor Sílvio Da-Rin participa de debate mediado por Iur Gomez no MIS, com a participação de militantes da época como a professora da UFSC Derlei De Luca e do professor Fernando Pontes.

O trailer de Hércules 56 no YouTube:




Hércules 56, de Silvio DaRin (documentário, 94min, RJ)
02 de junho - Sábado14h: Mostra Extra-FAM
Local: Teatro Ademir Rosa, no CIC1
5h30min: debate com o diretorLocal: Sala Multimídia do MIS, no CIC

Filme chileno coleciona prêmios

Play, de Alicia Scherson, participa de mostra não-competitiva no FAM 2007



A Mostra de Longas Mercosul apresenta no terceiro dia do FAM 2007 o filme chileno Play, de Alicia Scherson. Filmado em 2005 na capital Santiago, teve Argentina e França como países co-produtores. Ao todo, recebeu 12 prêmios em festivais por todo o mundo, além de ter sido indicado pelo Chile como representante no Oscar 2006. Também foi indicado pela Academia Mexicana como melhor filme ibero-americano para o Prêmio Ariel.

Trata-se de uma história de almas-gêmeas num conto urbano contado com um olhar social atento sobre a cidade de Santiago. Cristina (Viviana Herrera) veio do campo para cidade, onde trabalha cuidando de um idoso. Divide seu tempo entre passeios e jogos eletrônicos. Tristán (Andres Ulloa) é um arquiteto deprimido, que perdeu a mulher, o trabalho, e mais recentemente a sua mala. Cristina encontra a mala roubada de Tristán e, através de seus pertences, o conhece e começa a segui-lo instintivamente. O encontro dos dois é o clímax da narrativa. O título Play pode se relacionar tanto com a importância da música no filme quanto com o papel dos jogos na vida de Cristina.


Encontro dos personagens de Play


PRÊMIOS de PLAY


Tribeca Film Festival (Nova York, USA, 2005)
Melhor Direção Emergente


Festival de 3 Continentes (Nantes, França, 2005)
Prêmio do Público


Festival des Films du Monde (Montreal, Canadá, 2005)
Prêmio do Público – Glauber Rocha


Santiago Festival Internacional de Cine SNAFIC (Chile, 2005)
Prêmio do Público


Festival de Cine de Valdivia (Chile, 2005)
Melhor Atriz
Melhor Música

Cero Latitud Festival (Quito, Ecuador, 2005)
Prêmio Especial do Júri


Festival de La Habana (Cuba, 2005)
Melhor Opera Prima


Premios Pedro Sienna (Consejo de la Cultura, Chile 2006)
Melhor Filme 2005
Melhor Direção
Melhor Direção de Arte
Melhor Figurino


Site Oficial : http://www.playmovie.co.uk/

O futuro do passado do audiovisual

Iniciativas revelam preocupação mundial com a preservação da memória do cinema

Os fundadores do Centro de Pesquisadores do Cinema Brasileiro (CPCB), Myrna Silveira Brandão e Carlos Augusto Brandão, comandam no segundo dia do FAM 2007 painel sobre preservação da memória do cinema brasileiro. Será lançado o livro Memória da Memória – Uma História do CPCB. A entidade foi criada há 35 anos para restaurar obras fundamentais ameaçadas pela ação do tempo. O consagrado diretor americano Martin Scorsese inaugurou entidade semelhante no Festival de Cannes deste ano. A World Cinema Foundation foi criada por Scorsese com o objetivo de arrecadar fundos para a restauração de filmes antigos. Na cerimônia de lançamento da fundação, em Cannes, três filmes foram escolhidos para serem exibidos na seção Cannes Classics. Um deles foi o brasileiro Limite, dirigido e escrito por Mario Peixoto em 1930.







Cena de Limite (1931), uma das maiores referências
do cinema mudo nacional,exibido em Cannes 2007.




Exibido pela primeira vez em 1931, Limite tornou-se, ao longo dos anos, um filme cult lendário. Pode ser considerado a primeira e única referência para filmes brasileiros experimentais do cinema mudo. A primeira restauração de Limite ficou pronta em 1977. A nova restauração vem sendo realizada há mais de cinco anos pelo Arquivo Mário Peixoto, com o apoio da Cinemateca Brasileira, Funarte e VideoFilmes.

Curtas do FAM 2007

O curta-metragem é um grande foco de experimentação e pesquisa de linguagem no cinema dos países do Mercosul. O formato é muito mais do que um espaço de aprendizado para jovens cineastas ou simples cartão de visitas para a produção posterior de um longa-metragem. É uma linguagem livre e autônoma que revela a diversidade de estilos e temáticas da produção audiovisual da região. O FAM 2007 apresentará nas mostras de curtas uma seleção especial da produção recente do formato.

76/... curta argentino de Lucas Schiaroli

Pixinguinha e a Velha Guarda do Samba,
documentário de Thomaz Farkas e Ricardo Dias.

Yansan é uma animação de Carlos Eduardo Nogueira.

Por Causa do Papai Noel,
de Mara Salla,
obra catarinense na
Mostra Infanto-Juvenil.


Em breve no site do FAM 2007, você poderá encontrar a programação completa da Mostras e das outras atividades do Florianópolis Audiovisual Mercosul.

À espera de Beto Brant

O que esperar do novo filme de Beto Brant? Certamente um filme impactante, uma narrativa envolvente e ágil, personagens densos e dúbios e um certo atordoamento dos sentidos após a sessão. Mas também novidades e mudanças de rumo, como é de se esperar de um artista inquieto como Brant.

Foi assim com seus longas anteriores e estamos ansiosos por seu cinema visceral na noite de abertura do FAM 2007, em 01 de junho.

Os Matadores (1997) foi a estréia do diretor. Contando a história de assassinos de aluguel na fronteira com o Paraguai, Brant já dava sinais do barulho que ia fazer no cinema brasileiro recente.

















Ação Entre Amigos (1998). A força do cinema de Brant questionando a ditadura.











O Invasor(2001).
A consagração de uma obra pulsante.















Crime Delicado (2006).
Mudança de perspectiva em um filme que é um elogio apaixonado à imperfeição.
















Dia 01 de junho Florianópolis confere Cão sem Dono, o novo Beto Brant, em parceria com Renato Ciasca.










O cinema argentino no FAM

Há muito o cinema de nuestros hermanos argentinos nos dá provas de seu rigor técnico, da inventividade de suas histórias e do desempenho emocionante de seus atores.

Apresentando sempre obras imperdíveis, raramente vistas em cartaz nos cinemas brasileiros, os cineastas argentinos costumam representar a força da cinematografia de seu país nas edições do FAM. E nesse ano não será diferente.

Detrás del sol, Más Cielo.Visitem o site da produção em http://www.detrasdelsol.com.ar/

Na Mostra de Longas Mercosul, os representantes argentinos fogem do grande centro produtor que é Buenos Aires e investigam linguagens regionais próprias, caso de Luz de Invierno (filmado em Salta, Norte da Argentina) e Detrás Del Sol, Más Cielo (da região de Misiones).


Carla Galarza e Alberto Benegas em Luz de Invierno.
Detalhes da produção no site do realizador
http://alejandroarroz.com/

Além destes, o polêmico documentário No A Los Papelones, de Eduardo Montes-Bradley toca em questões ambientais de uma forma contundente.


Os pseudo-ambientalistas são alvo da investigação de No a Los Papelones, mais uma atração argentina no FAM 2007 .


Filmes argentinos para encantar o público do FAM 2007.

Os curtas de Barcinski

No dia 06 o FAM 2007 vai exibir Não Por Acaso, o primeiro longa de Philippe Barcinski.


Philippe Barcinski nasceu no Rio de Janeiro em 1972. Começou a trabalhar como estagiário de direção em cinema aos 14 anos de idade no filme "Leila Diniz" de Luis Carlos Lacerda. Na universidade, dirigiu seus primeiros curtas-metragens, "A Escada" e "A Grade", recebendo diversos prêmios, entre eles, o de melhor filme em Brasília e o prêmio especial do Juri em Gramado. Dirigiu mais três curtas, "O Postal Branco", "Palíndromo" e "A Janela Aberta". Juntos, os filmes ganharam mais de 40 prêmios em festivais como Chicago, São Francisco e México, e foram vendidos para mais de 10 canais de televisão como o Canal Brasil, Chanel Plus, Channel Four e o Sundance Channel.

Os curtas de Barcinski se caracterizam pelo intrincado jogo de lógica e memória em que os personagens (e os espectadores) se envolvem e pelo apurado manuseio dos elementos da linguagem cinematográfica usados pela direção para contar histórias simples de forma surpreendente.


Eucir de Souza em
Palíndromo:
narrativa ao contrário.




A brilhante carreira de Barcinski na direção de curtas-metragens gera uma enorme expectativa para seu primeiro longa, produzido pela O2 de Fernando Meirelles. Prepare-se para Não Por Acaso assistindo os curtas que revelaram o trabalho de Barcinski:

Em "A Janela Aberta (2002) " Enrique Diaz tenta se lembrar se fechou a janela, o que é o ponto de partida para um quebra-cabeças mental irresístível.
Veja no Porta Curtas:
http://www.portacurtas.com.br/Filme.asp?Cod=1550

E no YouTube, "Palíndromo":



"Palíndromo" (2001) conta o dia em que um homem simplesmente perde tudo, só que de trás pra frente.