sábado, 2 de junho de 2007

Por uma TV para todos

Augusto Gongora, da TV nacional do Chile, Paulo Markun, presidente da TV Cultura de São Paulo e Gabriel Priolli, da Televisão América Latina, reuniram-se para discutir a realidade e as perspectivas das TVs Públicas no Mercosul. Com experiências diferentes, eles relataram suas idéias sobre o tema no Fórum de sábado, 2 de junho, com transmissão simultânea via internet.

Augusto Gongora: Hay que ser sencillo.

Com a democratização nos anos 90, o estado chileno criou novas leis que regem a televisão estatal do país. O resultado do acerto entre diversas forças políticas produziu uma organização auto-sustentável, que por lei não pode receber dinheiro do governo. A TV Nacional do Chile desenvolveu então competência na gestão e alta competitividade no mercado. É a emissora líder em seu país, tanto em audiência, quanto em arrecadação publicitária.

A aliança com os produtores independentes é o forte da programação, ocupando 60% da grade. Jovens criadores apresentam uma diversidade de discursos estéticos, o que dá amplitude de linguagens, chave para o primeiro lugar na audiência. No Chile, a lei exige que 45% da programação seja nacional, mas na TV Nacional do Chile, 81% dos programas são produções chilenas.

A reformulação da TV Nacional chilena exigiu uma mudança de perspectiva em relação ao público. Dogmas e conceitos pré-definidos sobre que tipo de programação deve ser exibido em uma emissora pública tiveram que ser repensados. Para Gongora, não existe um público ideal e as estatísticas são frias e falam do passado. Para ele, a TV deve aproximar-se do espectador real, estabelecer uma relação afetiva com ele e planejar o futuro dessa relação.

O pior para uma TV é quando o espectador se sente estúpido. É preciso abandonar o medo de ser popular, é preciso determinar os conteúdos através de múltiplos formatos, como os programas de entretenimento. “Hay que ser sencillo”, temos que ser simples. Não é o gênero que determina os valores da obra, mas a linha editorial e o conceito que move o programa.
Gongora está atento para as mudanças que a tecnologia proporciona e afirma que a TV chilena prepara-se para investir em formatos multimídia e assim aproximar-se da geração dos blogs e Youtube, que buscam conteúdo independente e desconfiam dos meios de comunicação tradicionais.

Para ele, o público não deve ser tratado como objeto, mas em pé de igualdade, como um aliado estratégico.

Paulo Markun: A TV pública brasileira perdeu o bonde

Para Paulo Markun, no Brasil, a TV pública perdeu o bonde da história. È uma estrutura pouco relevante em termos de recursos, equipamentos e imaginário popular. Uma exceção honrosa é a TV Cultura de São Paulo, mantida pela Fundação Padre Anchieta, com cerca de 2 mil funcionários, que mantém uma imagem positiva, fruto de recursos oficiais, parcerias e publicidade. Reconhecida pela qualidade de sua programação infantil, praticamente não há espaço para a produção independente. Para Markun, a complicada realidade econômica das TVs públicas leva a investir em produções internas e baratas. E por parte dos produtores, ainda há uma incompreensão das regras do jogo quando o formato é televisão.

Gabriel Priolli: Uma nova TV pública

A TV brasileira é verticalizada. Existe uma cultura da auto-suficiência que remete ao início da televisão no Brasil, com a TV Tupi. Uma estrutura que produz tudo internamente, cujo maior símbolo é gigantesco estúdio do Projac, da Rede Globo. Isto leva à baixa diversidade e baixa democracia audiovisual. Para Priolli, as relações com o cinema ainda são superficiais e existe uma certa desconfiança dos executivos em relação aos produtores independentes.

Desconfiança não de toda improcedente, uma vez que muitos produtores não estão atentos aos prazos, orçamentos e à adequação de seu produto ao perfil da emissora. Os independentes geralmente vêem a TV como janela para a exibição de seu filme e não como uma mídia específica.Para Priolli, ainda existem poucas parcerias com os independentes e pouca interação com os novos modelos de comunicação no quais os limites entre produtor e receptor se diluem. Ele acredita que a TV pública deve quebrar o modelo tradicional, centralizado e vertical, e pensar perspectivas de cooperação entre países do Mercosul. E apontou para a efetivação da Rede Pública de Televisão, o projeto de TV federal em constituição que promete reconfigurar o setor público de TV no Brasil.

Nenhum comentário: